esse texto ainda requer uma revisão e uns retoques, mas eu preciso por ele pra fora hoje mesmo, então, aqui está, o primeiro tratamento, por assim dizer.
Ele estava um pouco nervoso enquanto me mostrava as musicas.
Estávamos nos conhecendo, e parecia uma forma estupenda de se entregar para o outro, mostrar aquilo que nos produzíamos de mais intimo. As musicas dele, e as minhas historias.
Nós já tínhamos mostrado nossos produtos para outros. Não eram virgens de apreciação, nem de elogios (tão pouco de críticas). Mas o intuito dessa vez era mais especifico. O jogo de sedução e entrega aqui era exacerbado, não queríamos apenas a apreciação de nossos dotes artísticos. Queríamos uma troca equivalente a de salivas e outros fluidos corporais.
As músicas dele não eram ruins. Mas era visível que ele nunca iria a lugar nenhum como músico se continuasse daquele jeito. Meus textos não eram menos medíocres. Mas nós eramos jovens, e competência era algo que tínhamos tempo para alcançar.
Eu escutava as músicas com um sorriso. Não era falso, mas minha cabeça processava a música de forma muito mais critica que minha boca podia fazer parecer. Acordes, letras, arranjos. Tudo era avaliado. Se algum talento eu carrego desde berço é o de ser critico. As vezes isso é bom, e eu já tinha aprendido a conter minha língua para evitar a maior parte das coisas ruins que isto trais.
Enquanto eu ouvia, ele segurava uma mão na outra. Quando as deixava livres, podia notar um certo tremor nelas. Isso me aliviava do meu próprio nervosismo, instaurado em mim quando li os contos para ele. Seu cabelo caindo sobre os olhos e olhar inseguro variando entre procurar ler o meu olhar e ler as próprias palmas das mãos.
E então uma outra música dele começou a tocar. Um arranjo sintético baixo e grave, que logo veio a ser acompanhado de um som que visava imitar uma guitarra, gerado pelo seu sintetizador. Reparei que ele estava com a mão no controlador de MIDI. Fiquei na duvida se ele estava executando aquele instrumento ou se estava só acompanhando, com o controlador completamente desligado do computador onde víamos a musica programada.
Ele estava executando. Tinha os olhos firmes em algum lugar além da parede, sua expressão estava menos tensa, mais alegre. As vezes parecia tentar lembrar que notas teria que teclar a seguir. Ele começou a cantar. A letra não era particularmente mais genial que as outras. Era bonita, um pouco mais bem elaborada, talvez. Mas não excepcionalmente diferente. Os arranjos ainda mostravam os mesmos vícios. Mas a musica soou tão linda.
No refrão ele olhou para mim. Aqueles olhos que cantavam para algum lugar além daquelas paredes brancas encontraram os meus, e ele estava tão lindo. Seu cabelo caindo no rosto, seu sorriso ainda um pouco tímido, mas já tão confortável em suas bochechas. Ele cantava aquela musica com uma paixão tão arrebatadora.
Quando ele tirou a mão do controlador eu beijei ele. A musica continuou (sem o instrumento que ele estava tocando) e acompanhava nossos movimentos. Beijos. Palavras. Beijos. Apertando meu corpo contra o dele, queria congelar o mundo naquele momento.
Uma musica como qualquer outra feita por um garoto como qualquer outro.
Uma história como qualquer outra feita por um garoto como qualquer outro.