Sob essa claridade

Dançar até chegar a terra sem males

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

E atendendo a pedidos...

Ok, você venceu.

Na verdade, desde que eu li a Veja eu estava querendo falar sobre o assunto por aqui. Ou algum lugar onde eu realmente fosse lido. Mas encaremos os fatos. Eu vou ser tão bem lido aqui quanto em algum forum ou em alguma caixa de e-mail de revista...

Eu quero que você entenda uma coisa. Para mim, é a alma do négocio. A reportagem da veja acabava com "Os mulçumanos precisam aprender a viver no mundo moderno". Essa era a precisa ultima linha. Se o mundo fosse um lugar legal, simplesmente mencionar essa linha apontaria todos os erros. Mas se o mundo fosse um lugar legal, ninguém teria escrito essa linha em primeiro lugar, teria?

Um resumo, por que estou jogando você em um bonde andando aqui na minha cabeça. Há uns 5 meses atrás um jornal europeu, da noruega, se não me engano, fez um concurso de charges sobre maomé. Não lembro da proposta do concurso. Só sei que o concurso serve para algo. Mostra, literalmente, a face de maomé segundo os europeu. E não foi um retrato bonito. Tivemos, meses depois, retaliações. O irã deixou de fazer comercio com a noruega, e em alguns países, as embaixadas foram atacadas, bandeiras queimadas e todo esse jazz.

Desde então temos todo esse grita daqui, grita dali. Todo mundo tem opiniões nesse assunto, e do lado ocidental, temos duas (oh, por que somos tão dualistas? por deus, até jesus cristo ganhou 3 faces, pq vcs insistem na dualidade?) correntes centrais. A "liberdade de expressão" de um lado, onde se parte do pressuposto que ofender e ser basicamente racista é um direito de expressão, e o "FOGO!" do outro, onde se pressupõe que se é proibido causar pânico em ambientes fechados gritando "Fogo!" (lei britânica. Don't ask, british are queer) deveria ser, por tanto, igualmente proibido acender o pavío de um barril de polvora desses.

Now then. Eu entenderia todo esse argumento de liberdade de expressão. Em alguns momentos, eu até concordaria com ele. A questão é, independente de qualquer outro argumento em toda essa história, que estamos difundindo um preconceito que incita uma situação (que eu anteriormente sugeri como inescapável) de quebra social que nós vimos ocorrer na frança. Os Árabes são os judeus de hoje. Nós escolhemos nossa vitima, vamos tocar fogo nela. É o que estamos fazendo. E estamos fazendo isso com a desculpa de Liberdade de Expressão.

Quando aceitamos de bom grado que uma religião e um povo sejam entendidos como terroristas (e o que somos nós? Pacifistas? ETA! IRA! Exercito Americano!) por causa da ação de uns poucos, não estamos colaborando com um processo destrutivo contra um povo? Recentemente estive em uma sala de aula onde professor e turma estavam alegremente concluindo que todos os alemães vivos na época são culpados pelo holocausto. Eu então tive que apontar para eles todas as culpas deles. Por deus, eram cariocas. Existe uma cidade no brasil onde esses abismos sociais seja mais gritante?

Pois bem, se nós ficarmos calados e aceitarmos que Árabes como um povo sejam retratados como terrorista, tomamos para nós a culpa por tudo que virá pela frente. Somos o tijolo e o cimento da guerra que se seguirá. Assim como foram os alemães e italianos. Os americanos e Ingleses.

Não, não são os mulçumanos que precisam aprender a viver no mundo moderno. Este é um mundo onde propomos que as diferenças são aceitas, e não um mundo onde estamos apontando para o diferente e o chamando de não-civilizado (por não ser 'moderno'), de assassino (por responder fogo com fogo) monstrualizando o diferente. Transformando ele no inimigo.

Acordem. Se continuarmos nesse caminho, seremos como aqueles velhinhos que ainda se referem a negros como 'pessoas de cor' e pensam que essa cor da pele é a 'marca de caim'. Seremos como os resquicios de nazistas que ainda acreditam em raça-superior. Seremos, enfim, a lembrança de um passado triste.

Acordem. Pratiquem o que pregam. Amor ao próximo, para os cristãos, tolêrancia a diferença, para os que são simplesmente modernos.

Se um jornal hoje publicasse uma charge que comparasse negros a macacos, ele seria desvalorizado, as pessoas parariam de comprar, não teria mais, talvez, confiabilidade, seriedade. Mas essa é uma batalha já vencida. Hoje vocês querem dizer que lutar contra esse tipo de retrato é ir de contra a vossa liberdade de expressão? Então vamos exibir em 5 salas do multiplex os filmes anti-semitas do partido nacional-socialista alemão que comparava judeus a ratos. Vamos alimentar nossas crianças com propaganda de ódio por que é um mundo livre. Um mundo diversificado. Onde eu consigo achar milhões de versões da biblia mas nenhum exemplar do alcorão.

1 Comments:

At 3:20 PM, Anonymous Anônimo said...

Eu tinha que esfregar esse texto na cara do norueguês que discutiu comigo (sim, sou cristã e violenta!=D)

 

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