Sob essa claridade

Dançar até chegar a terra sem males

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Bareback Mountain (ui)

Ok eu sei, piadinha da pior qualidade.

E para quem disse que ia sair dp clima de "tristeza não tem fim" falar sobre esse filme seria, teoricamente, um péssimo começo.

O Segredo de Brokeback Mountain (ou algo assim) é um filme sobre dois carinhas que se amam e todo relacionamento é complicado e blahblahblah. Suuure, i can relate. But then again, who can't?
Esse é o ponto de todos (os bons) filmes, correto? Você pode se identificar. Se você não pode, você falha em apreciar o filme.

Falando rapidamente sobre o filme. Eu gostei da fotografia por que eu adoro as montanhas e lagos da região central dos estados unidos. Claro, a fotografia de interior é linda também e tal. Mas eu ando meio, hm, angustiado com esses movimentos melancolicos de camera que americanos tão usando tanto. Sempre usaram, mas ultimamente tá me saltando mais aos olhos. A história seria perfeitamente, huh, ordinaria. Quero dizer, não são personagens extraordinários fazendo coisas fora do comum. E o ritmo que segue é esse. A gente acompanha a vida dos personagens aos saltos, básicamente o tempo do filme é o tempo que eles tem juntos, o que é maneiro, e acaba como deveria, diante das circunstancias. Sem planos sequencia explicando eventos. Sem aquele apice dramatico tipico. Eu gostei. E eu entendo a forma que isto afetou um amigo, alias. Ou teorizo. É uma forma narrativa que eu acho que tem haver com ele e portanto já tá pressuposta a tocar mais fundo nele só pela forma. Minha suposição...
(Tal qual a forma narrativa de A PAssagem já me toca mais fundo independente da história)

Mas isso é tudo balela. O que eu quero MESMO falar é das pessoas na sala. Eu peguei uma sessão mais tarde, e por tanto, mais vazia. Fora que foi em uma quinta feira. Não é um dia muito cheio. Ainda assim eu tive o prazer de experimentar as reações do publico. Que era: Uma séria de casais heterossexuais e, que eu pude perceber claramente, um casal homo e um trio de gays (que possivelmente 2 eram um casal, mas podiam ser só amigos. fiquei na duvida). Quando o trio entrou já senti o clima da plateia. Um riso pouco contido ao fundo. Se eu entendi bem, alguém tinha, corretamente, presumido que eles iam para aquele filme desde a bilheteria. Por que de todos nós da parte gay da sala, eles eram os mais notavelmente gays. Não, eu nem me incomodei. Na verdade eu achei engraçado também. Obviamente eu também tinha minhas opiniões sobre que filme eles iam assistir, só que eu também tinha minhas opiniões sobre a porção hetero da plateia. heh.

E tal qual a suposição do risonho indiscreto, as minhas viriam a se confirmar. Muitos foram assistir sob a desculpa de que as mulheres queriam ver. Durante toda a primeira parte do filme um muito razoavel numero dos homens hetero ficava procurando subtextos sexuais em TUDO que os caras faziam. Sem contar nas piadinhas sobre *comer viado* (Os moços comem carne de alce). Essa parte do filme foi particularmente util em confirmar minhas expectativas com relação a platéia. Mas os comentários, embora diminuindo em frequencia (namoradas embarassadas repreendiam seus companheiros), continuaram confirmando tudo que eu pensava e esperava deles.

Vamos lá, vamos esmiuçar isso. Se eles tem tanta resistência ao assunto, por que vir ver? Dão a desculpa da namorada. Ok. Acho desculpa, mas Ok. As primeiras piadinhas são as mais reveladoras. Os primeiros momentos são quando os personagens estão se conhecendo. Eu não sou cowboy, mas eu tenho certeza que aquilo é tudo rotina. E de toda a plateia, eu não identifiquei nos gays, nenhum comentario nessa parte. Eles estavam sentados perto de mim, e embora discretos, eu escutava quando eles falavam. Por tanto, em toda a parte absolutamente normal da relação de dois homens, os HETERO estavam achando insinuações homossexuais. Hm. O que você pensa disso? Nah. Não caía no truque barato de dizer que eles são todos gays reprimidos. Existe de fato uma repressão. Mas eles estão com suas namoradas e não duvido que estejam felizes com elas. E francamente, comentarios em voz alta em um cinema estão longe de soar como algo reprimido, não? O impulso homoerotico está explicito. O problema é: Por que você tem que explicitar o seu impulso homoerotico numa sala de cinema para pelo menos 20 pessoas ouvirem? Simples. Seu impulso homoerotico só pode ser explicitado dessa forma, por que tocar outro homem sexualmente (exceto no principio da puberdade, que é ok, mas por favor, seja o ativo, filho) é impensavel. Respondemos, por tanto, a primeira pergunta. Por que eles foram ver o filme? Eles foram ver o filme para realizar o desejo homoerotico deles. Uma forma divertida de se experimentar a homossexualidade. E o melhor, os caras até casaram e tiveram filhos, então eles podem sentir identificação ainda maior por que eles experimentaram uma homossexualidade que não castra a heterossexualidade deles.


Claro que em uma analise mais profunda... A impossibilidade de viver a situação homossexual do personagem principal, repressão social reforçada traumaticamente, castra a possibilidade dos dois personagens serem plenamente felizes. Ou seja, esse mecanismo de vivencia incompleta do impulso homossexual que todos naquele cinema tão obviamente explicitaram cria a situação de impossibilidade de concretização de algo que pode ser, em algum momento, essencial para a felicidade de um. Então sim, talvez aquele seu argumento de gay enrustido valha alguma coisa. Mas, provavelmente, esses casos nem entrariam no cinema. A propria idéia de ver tal coisa seria impossivel para eles.

É um bom filme. Recomendo. E pode fazer piadinhas sobre comer viados e tudo mais, é normal... Só tente fazer em voz baixa. E se você notar um quê de raiva nos seus comentarios, talvez seja legal procurar um psicologo.