Sob essa claridade

Dançar até chegar a terra sem males

domingo, agosto 21, 2005

O mundo se acaba em Euforia

A mitica da criação do mundo Guarani nos diz que tudo começou na Palavra. Assim começa, também, toda a mitica judaico-islamico-cristã. A palavra é uma tentativa de capturar e definir (nomear) um objeto real. Assim, criamos a linguagem, onde podemos encaixar os objetos reais em frases que se encaminham para algo. Seja este algo uma ordem a ser cumprida pelos outros com quem você se comunica, ou uma idéia a ser trocada com eles.

Faz-se crer que os primeiros homens, ao falar, ou seja, identificar e nomear objetos, e com essa codificação, processar o pensamento e criar, apartir disto, uma imagem da realidade para conseguir se comunicar. Assim, nos conseguimos apreender o mundo, e entendê-lo. E entendê-lo
abria uma nova percepção, e assim, fez-se o mundo (dos homens). A palavra parece, de fato, ter grande importancia para o que somos, como chegamos aqui e, especialmente, para onde vamos. Não existe algo que seja 'só modo de falar'. Tudo que você diz constroi sua realidade, cada palavra, bem ou mal escolhida. Assim, no principio, era o verbo, o alvorecer de nossa consciencia, de nosso mundo. Assim se fez a terra, e olhamos e vimos, que a terra era boa.

Com cada palavra, cada discurso, cada ordem que damos, criamos um mundo. Ou uma visão do mundo, conforme preferir. A palavra cachorro a nós remete um cachorro, de alguma raça, ou nenhuma. Ele cria no dialogo a imagem do cachorro. As palavras que se seguem vão nos dando as refer ências para maiores detalhes do cachorro. Vamos então criando a detalhada imagem daquele cachorro. E acrescentamos com verbos ações para ele, e a imagem ganha a perspectiva tempo e já temos um cão saltitante fazendo coisas que cães fazem. O cachorro, porém, se existe,
não é o cachorro da imagem.

A imagem que este dialogo (onde eu, escritor, estou jogando idéias que interagem com aquelas já na sua cabeça, leitor) constroi, especialmente por ser um dialogo menos ligado ao mundo prático, uma imagem que não é a do mundo em que vivemos, embora carregue em si as formas que vieram dele. Criamos, eu e você, um mundo particular e todo proprio neste exato momento.

Agora imaginem (ou seja, criem a imagem de) uma fractal, uma imagem onde um menor pedaço tem o mesmo padrão do maior pedaço. Se com nossa linguagem criamos uma imagem, talvez nosso mundo seja a imagem formada pelo discurso, dialogo, conversa, de outros. Seriamos pedaços desse discurso, idéias e conceitos, que na nossa interação com as outras idéias, objetos e conceitos, acabamos por descodificar/recodificar o codigo no qual vivemos. Todas as nossas ações seriam parte da interação desse discurso, idéias se trocando, conceitos se reformulando, sendo deixados pra trás...

A cada novo assunto que as entidades divinas que criam nossa realidade surgem novidades, acontecem coisas, mudamos nossos caminhos, encontramos novas pessoas e mudamos e nos transformamos em novas coisas. Saí do ventre de uma idéia, fruto de seu encontro com outra.
Cresci sob a influência destas e amadureci(?) em um novo conceito. Sou uma nova leitura da idéia do que foram meus pais... assim como minha geração e meu mundo é fruto das mudanças de pensamentos deles.

Que especie de dialogo inciou a realidade de nossa relação? A que conclusão chegou esse discurso? Foram tão longos e tão cansativos quanto os nossos? Foram tão fofos e aconchegantes quanto os nossos? Foram tão emotivos, tão carregados, tão tempestuosos? Espero que tenha
sido um dialogo tão gostoso quanto foi estar com você...

(Mas aposto que você partilha da minha desconfiança de que essa conversa deve ter sido algo em torno de se a entendidade divina em questão devia ou não usar aquela camisa listrada no baile esta noite)

1 Comments:

At 9:33 PM, Blogger Cail said...

O clima intimo, embora passe pra todo leitor, era pra um leitor especifico, caso vc não tenha notado hahahaha =P

 

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